segunda-feira, 26 de setembro de 2016

VIVÊNCIAS E COTIDIANO: Fugindo dos padrões e retângulos da vida...

Noite no Jordão - Foto: Ion David
A semana que passou trouxe perspectivas de mudanças.

Nas rodas de conversas e nas mensagens “levadas pelos ventos“ no Juruá sinalizam haver chegado o momento de discutir e implantar mudanças.
No alto Juruá a campanha do prof Isaac Toto Ashaninka ganha força. No médio Tarauacá os Huni Kuin da TI Praia do Carapanã vão se reunir para discutir a cultura e, no Envira, os Shanenawa já sinalizam que os meses finais deste tumultuado ano de 2016 trarão mudanças sensíveis na organização de suas comunidades.

Na sociedade nawa (não-índio), ainda estamos numa encruzilhada de possibilidades que, à primeira vista, não são muito claras. Também, este período eleitoral em que estamos em nada contribui para certezas futuras.

Mas, temos mudanças muito mais profundas que vem transformando nossa sociedade e cultura, consolidando novas dinâmicas “de vida” em nossa contemporaneidade urbana.

Não gostar de mudanças é uma característica humana. Claro que neste mundo diluído que vivemos hoje em dia, as mudanças ocorrem na velocidade com que somos bombardeados com novidades tecnológicas, novos paradigmas sociais e novas tendências culturais.


segunda-feira, 19 de setembro de 2016

NAWA XARABU BU HUNËA*: Invisibilidade ou indiferença?

Crianças Huni Kuin - Foto: Talita Oliveira**
Na semana que passou li duas noticias que me causaram diferentes sentimentos. Notícias estas que, em comum, tinham os mesmos temas: morte e visibilidade midiática.

Obviamente que uma delas o leitor vai deduzir se tratar do afogamento do ator Domingos Montagner.

A outra, poucos ou praticamente nenhum dos leitores poderia deduzir. Trata-se da divulgação do relatório “Violência contra os Povos Indígenas do Brasil”, que nos trouxe dados que mostram haverem ocorridas 891 mortes violentas de indígenas no Brasil entre 2003 e 2015.

Como escrevi acima, estas notícias percebidas por mim trouxeram emoções distintas.

A primeira vi rapidamente e com indiferença, pelo fato de que eu não fazia ideia de quem seria este ator que morreu, ou sequer que existia um ator com este nome. Não sabia de que trupe ou canal o mesmo pertencia, pois tomei conhecimento de sua morte pelo facebook, através das postagens com carinhas tristes e lágrimas escorrendo. Geralmente "passo direto" quando vejo estes emoticons. Assim, na hora dei de ombros, pois outro sentimento logo me tomou de assalto ao ler a matéria seguinte, do site Amazônia Real sobre o relatório que trazia os dados e contextos das mortes dos indígenas.

Li a matéria, passei os olhos nas informações do relatório, e fiquei triste, pois me lembrei do nome de alguns destes mortos. Lembrei-me de seus rostos. Lembrei-me da profissão de alguns deles. Lembrei-me, ainda, de alguns momentos descontraídos e divertidos que tive junto com alguns deles. Pensei e até escrevi um comentário quando compartilhei o texto na minha timeline: infelizmente, estes são os “invisíveis” e as suas mortes não causam tanta consternação quanto a de outros. Respeito o luto nacional por suas figuras púbicas, mas me dói muito pelo desconhecimento e a falta de reconhecimento nacional deste genocídio que vem ocorrendo com nossos povos originários, os verdadeiros donos desta terra...

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

ELEIÇÕES 2016: Sobre proselitismo político e os povos indígenas...

Os ânimos se acirraram aqui no Aquiry, principalmente no Yuraiá (rio Jordão), quando as Terras Indígenas Huni Kuin localizadas na região decidiram não permitir a entrada de candidatos não-índios em suas aldeias, além de manchetes nos jornais locais, também causou desagrado em um bom número de postulantes às cadeiras legislativas e executivas municipal. Teve até quem dissesse ser esta atitude contra a lei por supostamente coibir o direito de condições iguais para os candidatos (clique aqui).

É bom citar que no Amapá, numa situação idêntica, o Ministério Público Federal considerou válida a decisão do povo Wayãpi de não receber candidatos em suas aldeias (clique aqui).
Acho interessante quando leio algumas manifestações contra a decisão dos indígenas e vejo a utilização do substantivo “crime”, tão em moda no Brasil contemporâneo.

Trocando em miúdos: os indígenas são criminosos por não aceitarem a visita obrigatória de pessoas que nada tem a oferecer, além de promessas vazias e muitas vezes ininteligíveis para a maioria das aldeias? 

Não posso dizer que me impressiono com tal substantivo atrelado à palavra “indígena”, afinal, na visão geral de grande parte da sociedade nacional é esta a visão que se tem sobre os povos indígenas.

domingo, 4 de setembro de 2016