segunda-feira, 25 de setembro de 2017

ARTESANATO INDÍGENA: Ciclo da vida e da harmonia com a natureza...

Panela de barro, Povo Nukini
Por: Jairo Lima

Nesse dominicus* em que minha pena tecnológica traça as linhas dessa crônica e um resfriado me aflige a paciência, observo que as redes sociais estão pegando fogo, ‘acendidas’ por alguma ‘polêmica da semana’ que surrupiou os ânimos e os neurônios de muitos, penso na semana que passou, em que o espírito do grande pajé  Sapaim Kamayurá voou em direção às estrelas e onde, uma série de pequenos dramas e percepções se interligaram como que traçados em uma teia por uma aranha fantástica, tal qual o ser divino e sobrenatural que ensinou os traços das pinturas do Povo Ashaninka.

No meio de tudo isso comecei a dar publicidade de um projeto que venho desenvolvendo, e que tem tudo pra dar errado, morrer na praia, como costumam dizer. Trata-se de divulgar e fomentar a produção e valorização de uma prática que, pelo menos pelas bandas do Aquiry precisa ser mais difundida, sob o risco de se tornar um conhecimento ‘perdido’ no decorrer dos anos que virão: produção de arte e artesanato a partir de matéria-prima natural, utilizando técnicas tradicional (pelo menos em grande parte) em seu feitio.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

SETEMBRO: É amarelo. E é vermelho cor de sangue. E translúcido como a sua indiferença...



Por: Raial Orotu Puri

Pois é, estamos em setembro... Se de 2017 ou de 2016 – fase II, não sei dizer... Mas, seja de que ano for, é setembro, e passar por setembro, no Brasil de hoje, certamente é para os fortes... E o é também por ser um mês com uma relativa quantidade de datas consideradas importantes para o movimento indígena mundial, algumas delas comemorativas, outras nem tanto assim, e algumas, nem de longe...

Penso que é um mês um tanto bipolar: Setembro marca o início da primavera neste lado do hemisfério, e, em geral, existe certa associação entre essa estação e a renovação da esperança e da vida, e, no entanto, é o “Setembro Amarelo”, o mês da conscientização e prevenção do Suicídio...

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

UMA PEQUENA HISTÓRIA ÀS MARGENS DO RIO TARAUACÁ…

Por: Jairo Lima

O sol estava a pino. Já passava do meio dia quando ele finalmente conseguiu acertar tudo direitinho com o barqueiro que aceitou levá-lo, na subida do rio Tarauacá. Fazia muito calor naquela tarde de setembro, e conseguir um barco foi o menor dos problemas naquele dia.

- Pra onde você quer ir mesmo? - Era a pergunta mais frequente que ouvia pela cidade, onde quer que parasse para resolver alguma coisa antes de sua viagem. Talvez a estranheza se desse pelo fato de aparentar ser muito jovem. Talvez por ser extremamente branco e aparentar fragilidade. Talvez por parecer uma pessoa estranha mesmo, com cabelos longos e brincos: “Mais um maluco atrás do que fazer…” - Foi o comentário venenoso ouvido de uma mesa ao lado, quando certo dia almoçava com um indígena que o acompanharia, sem se dar conta que estava falando um pouco alto, e, certamente, com um ‘estilo’ de fala (o tal ‘sotaque’ conhecido no interior como ‘sotato’).

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

DOS POVOS IN-SEM AOS COLETIVOS DEVERIAM SER.


Por: Domingos Bueno

Um dia desses uma pessoa me perguntou se eu gostava de ser antropólogo e músico. Disse que sim, que tinha grande admiração e gratidão pelos assim chamados índios principalmente pelas soluções geniais que ao longo de sua existência tem adotado para lidar com seus vizinhos, com a natureza, com as doenças e com os não-índios e que, eu que não sou índio, também não pretendo sê-lo.

Digo isso porque não gosto muito de negócio de brancos versus índios. Brancos quem, cara-pálida? Os europeus do leste ou do oeste? os negros? os japoneses? Eu, moi, particularmente sou, honrosamente, por um lado descendente de italianos do norte e de outro de brasileiros frutos da mistura de índios, negros, portugueses e, salvo engano, de até de holandeses dos guararapes.

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

DIREITOS AUTORAIS COLETIVOS E INDIVIDUAIS: O que isso tem a ver com a cultura indígena?

Por: Jairo Lima

Na semana que passou, enquanto apreciava o sabor marcante do matxu* e admirava as belas peças de artes indígenas, trazidas do Festival Shanenawa, da Terra Indígena Katukina/Kaxinawá, um pedido de esclarecimento sobre procedimentos de registro de canções Huni Kuin me alertaram para uma situação que vem ocorrendo bastante, e que, certamente trará problemas para este povo, no futuro. O interessante é que não se pode dizer ser uma situação exclusiva deste povo, pois já vi situações semelhantes ocorrendo, ainda que em menor grau, nos demais.

Trata-se da questão de registro das músicas tradicionais, cantadas por txana** e das canções de autoria dos diversos ‘cancioneiros indígenas’ dentro e fora do Brasil.
Com o aumento de jovens indígenas que, com o violão embaixo do braço, e munidos das chamadas ‘medicinas indígenas’ excursionam por esse mundão de carência espiritual um novo mercado vem crescendo bastante: o de registro, em CD e demais mídias, de canções indígenas.

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

IDENTIDADE INDÍGENA NÃO É FANTASIA

Por: Raial Orotu Puri

Este mês começou para mim com uma cena um tanto quanto pitoresca, que gostaria de utilizar de base reflexiva para este texto. Bem, outro dia, uma conhecida me interpelou para perguntar se eu tinha alguma roupa, enfeite de cabeça para emprestar ao filho dela, que iria realizar uma apresentação na escola. Perguntou-me em especial se eu não teria um cocar tipo o que ela vira na cabeça de um dos txai Huni Kuin que ela vira em minha companhia no dia anterior. Ela explicou-me que havia procurado em lojas de fantasia, mas lá só tinha para crianças pequenas, e, portanto, não caberiam no filho, já que é um adolescente.

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

ENCONTRO DE MULHERES INDÍGENAS NO ACRE

A resistência indígena se expande com o empoderamento da energia feminina indígena!

Por: Dedê Maia

Esse encontro tão especial traz a relembração histórica do movimento dessa Força Feminina Indígena que tive o privilégio de conhecer, e acompanhar de perto, desde seu protagonismo no cotidiano de suas aldeias, carregando seus paneiros pesados de macaxeira e banana, fazendo comida, batendo algodão, tecendo suas redes... Nossa! É muita força e energia em ação!

Traz ainda relembrações das primeiras reuniões dentro das aldeias, década de 80, quando as mulheres, restringiam-se em participar e ouvir, sentadinhas a certa distância, na roda, onde só os txais tinham voz, e decidiam sobre os assuntos em discussão. Educação, saúde, alternativas econômicas, eram os assuntos que faziam parte de todas as pautas das reuniões. E alternativas econômicas eram preocupações que se destacavam, pois, muitos desses povos, e comunidades indígenas, dependiam até então do trabalho da extração da seringa. Com a queda do valor da borracha no mercado, ficaram sem saber o que fazer para oferecer como moeda de troca. E a mulherada sentadinha no seu canto, escutando tudo...!!! Pensando, talvez, como colocar também sua força, sua energia, seus saberes à disposição da luta dos parentes, dos seus parceiros, por uma vida mais digna. Concretamente pensando como ajudar a comprar o sal, o combustível, a munição para as caçadas, sabão, etc. Coisas que já faziam parte de suas necessidades básicas.

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

SAGRADO INDÍGENA: Reflexões e ‘papos de índio’ sobre o uso de folha de coca nas aldeias do Aquiry...

E uma notinha sobre um novo tipo de tráfico do sagrado...
Por: Jairo Lima

E o verão segue inclemente aqui pelas bandas do Juruá, nos mostrando que brincar com o meio ambiente, aumentando a temperatura global, não é uma boa ideia.

Na semana que passou, enquanto lia as mensagens finais, fechando o esperado dia de Frig* fiquei horrorizado. Expressei publicamente este horror, ao deparar-me com uma postagem de um centro que se diz espírita negociando na maior cara dura a venda de ayahuasca e kambô. Achei isso o fim da picada. Não que eu fosse assim tão ‘pollyana’ em achar que este circuito ‘ayahuasqueiro’ fosse algo tão sagrado que as pessoas respeitassem, senão no mesmo nível que os chineses com os túmulos de seus imperadores, mas, ao menos, num nível de decoro e respeito.

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

MEU AVÔ, MEU PAI E EU: Sobre despedidas, reencontros e uma fotografia que não falta mais…

Por: Raial Orotu Puri

No começo deste mês recebi a notícia de que meu avô José Baia faleceu. Mineiro, com uma idade imprecisamente estabelecida em ‘mais de 100’, ele foi declarado morto pela segunda vez em sua vida. A princípio, eu havia pensando em escrever um outro texto para esta semana, mas acontece que no mesmo mês em que está instituído ‘o dia dos pais’, o meu pai perdeu o pai pela segunda vez (terceira, se for incluir na conta o pai adotivo), e eu perdi esse avô que eu não tive durante mais da metade da vida...


É uma perda estranha. E é uma falta estranha. E sinto que não poderia terminar este mês sem falar dele, para que meu silêncio não se acrescente à ausência agora renovada e tornada definitiva. E é sobre isto que me proponho a escrever agora. Sobre o avô que eu não tive, e já adulta passei a ter, e agora se foi... sobre o pai que faltou a uma criança, e o marido que falou a uma esposa...  sobre a falta de alguém importante, sobre o retorno de alguém querido e ao mesmo tempo desconhecido, e sobre o fata de que a sensação de agora perde-lo de novo é de tristeza, mas é, de certa forma, também de consolo. E, além disso, também sobre o quanto essa ausência se fez presente na minha existência e busca de mim...